Que sinal vêm de tudo isso?

Uma semana após o sinalizador a torcida de o Corinthians ter matado Kevin Espada, de 14 anos, em Oruro, na partida entre San Jose x Corinthians, deu para notar as mais diferentes opiniões. Sejam elas, cubistas, raivosas, tristes, demagogas, hipócritas.

Quando acontece um ato desses, a única coisa que deve ser focada é o que aconteceu para o sinalizador ter atingido o menino e achar os culpados do fato. E quais são os culpados? Muitos pensam que o único culpado é o menor de 17 anos, membro da Gaviões da Fiel. Mas não é.

O maior culpado é a Conmebol, confederação que comanda o futebol sulamericano. Desde que acompanho Libertadores, é muito notável ver a precariedade dos estádios, falta de seguranças, não só com a torcida, mas com os jogadores e arbitragem. Já foi visto até carrinho de mão ser arremessado no gramado em partida entre América-Mex e São Caetano há alguns anos atrás.

Daí, muitos dizem: "mas isso é a Libertadores!", exaltando a característica do campeonato. E isso foi o que fez a Conmebol virar a zona que virou hoje, sem organização nenhuma, que não toma providencias para melhorar o futebol sulamericano, que está anos-luz atrás da Europa.

O primeiro indício de que o erro principal é da Conmebol, é o jogo ter sido realizado. Primeiro, por acontecer em uma altitude que 'humanamente impossível se doar 100%. Só será mudado isso quando um jogador morrer em campo por causa de alguma complicação?

Segundo é a cidade de Oruro. Uma cidade que não tem aeroporto num raio de 200 km, num estádio precário. Soma-se o fato da Conmebol não restringir a entrada de qualquer objeto dentro do estádio, seja bandeira, papel, pilhas, que viram armas para ser atiradas pela torcida nos jogadores e na arbitragem.

Tem a responsabilidade da polícia, que sabe do risco que se tem estar num aglomerado de pessoas em posse de fogos de artifício. Tudo isso, somado o acidente, fatalidade do ato do torcedor corinthiano, que não quis ferir, apenas não sabia manusear.

Punir um clube, seja ele qual for, punir um país, por um fato isolado, mesmo sendo ele trágico, se faz repensar em várias coisas. A menor delas é pensar em só punir um clube, seja com multa, ou mandos de campo. A morte de Kevin espada pode ser um marco para que os clubes obriguem a Conmebol a ser séria, de preservar o espetáculo. É isso que a more de Kevin pode fazer para o bem do futebol, se é que é necessário ter mortes para se ter uma atitude para o bem de todos.

Seja você jornalista, torcedor, ou uma pessoa que não ligue muito para o esporte, falar que o torcedor corinthiano é assassino, generalizar por puro cubismo, ódio do Corinthians, não é certo. Muito menos responsabilizar um clube, por toda desordem que á organização do campeonato, e todo futebol sulmaericano. É isso que esportivamente tem que ser cobrado melhoria para todos os clubes, torcedores, seja ele de estádio ou de TV.

Agora nada disso apaga a morte de Kevin, e isso não é da área esportiva, e sim da parte policial. Que seja punido o torcedor, mas também todos que foram responsáveis para o futebol chegar a esse ponto. O sinalizador sem direção foi só uma ramificação de erros e mais erros organizacionais, que se não forem extintos, causarão muita coisa triste de se ver.

Na partida desta terça-feira, em Barcelona, torcedores do Real Madrid atiraram sinalizadores na torcida rival. No jogo entre Peñarol x Velez Sarsfield, houve briga entre as duas torcidas. Quem vai ser punido? Haverá punição? Será que se um torcedor do Barcelona fosse morto, o Real Madrid seria o culpado da morte, e perderia mandos de campo? Ou só porque é na Europa, tudo vale.

Pense nisso, quando se pensa sem conceitos estabelecidos, e tenta-se compreender e tirar o melhor ensinamento saberá que a culpa não foi do Corinthians, do San Jose, da policia. E sim quem de quem deixou chegar ao ponto de termos que em uma morte, discutir se um time vai ser punido ou não, se esquece da dor da família e do nível em que o futebol sulamericano chegou.

O futebol é uma extensão da sociedade. Se você tem um país violento, que se cobre quem governa. Quem se acomoda ou nada faz, é conivente. E quando a tragédia chega, é fácil achar um culpado, mas falta quem queira e haja para tudo melhorar. E há muito pouca gente que faz isso, seja na sociedade, seja no futebol, seja em qual área for.